4 poemas + 1 balada agreste de José Inácio Vieira de Melo

WhatsApp Image 2021-02-18 at 22.46.34

 

 José Inácio Vieira de Melo​ (1968), alagoano radicado na Bahia, é poeta, jornalista e produtor cultural. Publicou oito livros de poemas, dentre eles Sete (2015) e Entre a estrada e a estrela (2017). Publicou também as antologias 50 poemas escolhidos pelo autor (2011) e O galope de Ulisses (2014). Organizou três antologias com poetas baianos e participa de diversas antologias no Brasil e no exterior. Coordenador e curador de eventos literários, como a Praça de Poesia e Cordel, na 9ª, 10ª e 11ª  Bienal do Livro da Bahia (2009, 2011, 2013), e a Flipelô – Festa Literária Internacional do Pelourinho (2017, 2018, 2019). É convidado, com frequência, para vários eventos por todo o Brasil e no exterior. Em 2018, esteve na Cidade do México, a participar do VIII Festival de Poesía Las Lenguas da América, representado o Brasil e os países de Língua Portuguesa, e em Cartagena das Índias, na Colômbia, onde participou dos festivais de poesia XXII Festival de Poesía de Cartagena e Sílaba de Agua – Fiesta de la Palabra y las Artes. Em 2020, participou do XXVIII Festival Internacional de Poesía de Bogotá e do XIII PoeMaRío – Festival Internacional de Poesía en el Caribe, em Barranquilla, Colombia. Dentre os prêmios conquistados, destacam-se o Prêmio O Capital 2005, com o livro A terceira Romaria, e o Prêmio QUEM 2015, na categoria Literatura – Melhor Autor, com o livro Sete. Tem poemas traduzidos para os idiomas alemão, árabe, espanhol, finlandês, francês, inglês e italiano.

 

| SUÍTE DO VELHO CHICO

Poemas inéditos de José Inácio Vieira de Melo

Para Edson Silva, Kebek e Lupeu Lacerda |

 


NÊGO D’ÁGUA

 

O Nêgo D’Água

não nega nada

para quem zela

da sua morada:

 

a paisagem aquática

do Velho Chico.

 

PONTE

 

Rio São Francisco

Juazeiro __ Petrolina

Fonte

           Ponte

                        Vida

 

BALADA AGRESTE E DELIRANTE PARA JUAZEIRO DA BAHIA

 

Juazeiro tem a moldura mais fina,

a moldura cristalina, cor de prata,

a face aquática do Velho Chico.

 

Juazeiro é nome que ilumina,

Juazeiro é um São Francisco

destampando o alvorecer do dia

na panela plena da meia-noite,

para mostrar aos seus viventes

a face clara da alegria.

 

Juazeiro é nome de cantiga,

é a lavoura rica da caatinga,

uvas e mangas às europas,

enquanto os bodes salivam

cactos no centro do Salitre.

 

Juazeiro traz no imo uma paradoxal sina,

que é rimar a fome das gentes

com a farta lavoura que vai para fora.

 

Juazeiro, Juazeiro,

me arresponda, por favor,

onde anda o meu amor?

Na Ilha do Fogo?

Nos braços do Nêgo D’Água?

Ou na Ilha de Nossa Senhora?

 

Juazeiro, em teu céu

a lua tem uma coisa de cio.

E como é bom caminhar por tua orla

e sentir o cheiro da tua fauna e da tua flora,

dentro do lixo, mirando o luxo.

 

Ai, meu Juá, só tuas sanfonas

me fazem esquecer as muriçocas,

e somente tua preta mãe de leite

para alimentar teus cães sem dono.

 

Ai, Juazeiro, como é solitário o teu João.

Parece até que seu violão só diz não

para o rio, para o povo. Pára, João!

 

Pára não, meu Juá!

Um coronel há de sair da caatinga

com seu admirável exército de luzeiros,

carranca que expulsa a sujeira,

espalhando livros e medicinas

em cada casa, em cada esquina.

 

Juazeiro, Juazeiro,

Agora, eu vou na casa dela:

somente o Amor pode me segurar!

 

PASSAGEM

 

Dentro deste rio que passa,

sou a pessoa que passa.

(E dezembro chega. E passa.)

 

Quantos dezembros

passará essa pessoa

que se mira no rio

e sonha que passa?

 

(Há apenas um centauro

bebendo a água que passa.

 

Ou será uma pedra só,

jogada na água, a espalhar

mitos e sonhos que passam?)

 

SINA

 

Carregar água na peneira,

eis a minha sina.

 

Choro ou sorrio?

 

Sou rio.

12 comentários em “4 poemas + 1 balada agreste de José Inácio Vieira de Melo

    1. A poesia de JIVM com sua capacidade de carregar, nas palavras, a alma das coisas, doa lugares.
      Que lindo ver Juazeiro cantada em seus versos!

      Amei, especialmente, o diálogo com Manoel de Barros. Você é, JIVM, um carregador de água , mas a água escorre da peneira da sua poesia rega as estradas por onde passa!

      Curtido por 2 pessoas

  1. Conheço este poeta de perto e sei do imenso potencial de mergulho profundo nas entranhas da poesia. Meu irmão de sonho e de arte, ele no nordeste e eu no norte cantando o jeito simples do homem que tem os pés no chão da simplicidade, livres dos grilhões da indiferença. Salve o Caboco José Inácio!

    Curtido por 2 pessoas

    1. Gostaria de parabenizar esse poeta aguerrido JIVM, quê mesmo diante de tantos obstáculos que a vida nos oferece, nunca desistiu de sonhar… hoje, um grande incentivador dos poetas mais jovens!!!

      Curtido por 1 pessoa

  2. JIVM, um poeta multifacetado, faz música quando faz poesia, faz poesia quando compõe uma música e embeleza o mundo por esse sertão a fora sertão a dentro. Um alagoano da Bahia do Brasil e do mundo…
    Parabéns poeta das mil faces, do aboio fácil, da poesia de dois gumes que dilacera quem ama a poesia vivaaaaa

    Curtido por 2 pessoas

  3. A graça do estado da ludicidade e da poesia,
    que guia,
    o inspirado
    nas vias que enxerga através das lentes de tão fundas palavras para dizer
    dos líricos caminhos que ladeiam os São Franciscos.
    Sorvo
    e elevo meu espírito.
    Gratidão, poeta.

    Curtido por 2 pessoas

  4. Essa tua balada me abalou, meu poeta JIVM. E que maravilha de foto! Tu és o próprio Nêgo D’Água. Parabéns por essa Suíte brasileira, por essa riqueza poética e aquática. Beijinhos!!!

    Curtido por 2 pessoas

Deixe um comentário