Adriano Lobão Aragão (Teresina/PI, 1977). É mestre em Letras pela Universidade Estadual do Piauí. Atuou como professor de língua portuguesa na rede particular de ensino e como assessor pedagógico da Editora Saraiva. Atualmente, é professor do Instituto Federal do Piauí, IFPI. Autor, dentre outros, dos livros Uns Poemas (poesia, 1999); as cinzas as palavras (poesia, 2009); Os intrépidos andarilhos e outras margens (romance, 2012); Os tempos e a forma (poesia, 2017). Editor da revista eletrônica dEsEnrEdoS (www.desenredos.com.br). Os poemas aqui compartilhados integram o livro inédito Destinerário. E-mail: lobaoaragao@gmail.com
CAXIAS
no passo impreciso em que desce o morro do alecrim
caminha a tarde pela arabesca geografia de tuas ruas
na herança impressa nas fachadas destas casas
nas cores do pôr do sol se diluindo no céu
no eterno gesto do poeta ao ler sua obra
enraizado entre as palmeiras desta breve praça
o tempo enlaça o que resiste à sua marcha
e entrega aos seus habitantes os dias seguintes
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ARAIOSES
nos campos alagados se planta arroz
sob o barulho do vento nos carnaubais
desenha o rio uma cidade entre curvas
e espalha suas águas em lento caminhar
abrigando canoas e barcos em seu leito
onde lançam os pescadores suas redes
seus dias de pesca de bagre e camurim
expostos nas barracas do mercado
lançam também destino e origem
enlaçados na mesma água que move
a sobrevivência dos dias seguintes
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COIVARAS
habitavam estas trilhas
os que descansam sob a terra
demarcada pelo cemitério da flor
os que então estiveram
muito antes dos que testemunharam
a vinda da estrada de ferro
e os primeiros que outrora aboiaram
trazendo o gado para o descanso
no olho d’água da ingazeira
aqui se encontram irmanados no silêncio
sob o olhar e o alento de santa luzia
os que aqui permaneceram até o limiar da vida
e ainda que seguissem adiante
levando o dia ao tocar a boiada
espalharam pelos vales e veredas
as pegadas apagadas pelo vento
e deixaram as cinzas de suas fogueiras
iluminando a noite e a lembrança
dos campos onde pernoitavam os vaqueiros
***
INHUMA
habitam estes banguês tempo e terra
seus caldeirões de água em pedra
o mugido da vaca no curral da frente
o rangido da carroça cheia de meninos
que gargalhavam na vereda da lagoa
habita estes banguês um vento contido
dividindo o sabor da cana-de-açúcar
entre abelhas e rapadura e as mãos
girando a arquitetura do alfinim
enquanto a mãe d’água prepara o meio-dia