4 poemas de Sergia A.

pixiz-07-07-2018-14-52-42

Sergia A. (Pedro II/PI). Escritora brasileira, mestra em Letras/Literatura. Tem artigos acadêmicos e produções literárias publicadas pelas revistas Desenredos, Revestrés, Letras em Revista (UESPI) e antologias várias. É autora do livro Quatro Contos, Editora Quimera (2018), e responsável pela edição do blog Palavras de.Lirantes. Vive na capital Teresina. [http://palavrasdelirantes.blogspot.com.br/]

 


O MAPA

 

O vento corta a pele

entre pinheiros, araucárias, cedros e plátanos

sigo fantasiada de frio

estrangeira em meu país

de vez em quando uma palmeira

uma aroeira um sabiá

e a língua fazendo ponte entre sotaques

 

outono sem cor

no bosque levanto os olhos em busca de luz

vejo-te sufocado em sombras

com uma lança sobre o peito a sangrar

 

redesenho o relevo açoitado pelo mesmo vento

sonho cores de areia e mar

desejo trançar teu cabelo como fazem as mães:

é só um pesadelo, vai passar.

 


UMA VEZ UM ENCONTRO

 

O teu olhar desloca o meu

 

entre ilhas como letras miúdas que desenham ondas em tons de azul

entre tipos como palavras que mancham a leveza do papel

entre molduras como o ouro que rabisca formas no museu

 

desloca-me da noite que me partiu

recompondo em dourado os fragmentos

a fratura exposta ao vazio que o instante corrompeu

 

balança-me entre cigarras e pirilampos soprando notas de shakuhachi

e lá fora o mundo é novo ainda que velho para mim.

 


CONFISSÃO EM TARDE DE OUTONO

 

acato ondas, mansas quando convém
intempestivas quando açoita o vento

 

firmo o tronco diante delas enraizando-me
entre grãos de areia banhados de espuma.

 

absorvo acessos em fases revoltas entre calmarias
anima-me o brilho a refletir cores de nuvens e luar

 

plantado na memória o estado de semente
aguarda o repentino e inevitável movimento

 

chegará ao que restar de mim, é certo
em murmurantes passos ritmados
o que por destino não me é dado alcançar
e já não caberá às sobras mais que o espanto.

 


O VOO

 

Já não sentia sob os pés

a areia

era de nuvens

o longo caminho
Eis que no horizonte

um oceano se estendia

antes do céu

o anteparo

tudo aos poucos revelava

como findável travessia

de formas inúteis

(corpos, posses e certezas)

ou de uma realidade

que no espelho se invertia.

 

Deixe um comentário