4 poemas de Anelito de Oliveira

ANELITO DE OLIVEIRAhttps://www.facebook.com/anelitodeolivei

 

Anelito de Oliveira |Bocaiuva/MG, 1970|. Poeta, ficcionista, crítico literário, ensaísta e editor brasileiro. Começou sua atividade literária/artística no final dos anos 1980. Estreou em livro com Lama em 2000 e publicou, desde então, outros dez livros, seis de poemas, dois de ficção, um de textos diversos e um de ensaio, além de vários livros ensaísticos em parceria com outros autores, artigos em periódicos impressos e digitais no Brasil e no exterior. Os quatro poemas, aqui partilhados, fazem parte do livro inédito Desforra – 1990/2020, coletânea em vias de aparição que apresentará a poesia “desunida” do autor, uma produção processada sob o signo do conflito ao longo de três décadas de ofício. O livro, com o qual Oliveira encerrará sua publicação de poesia, conforme ele mesmo anunciou  em mesa no evento Raias Poéticas em 21 de junho passado, sairá pela Orobó Edições, editora criada por ele em Belo Horizonte em 1998. Conatato: |anelitodeoliveira@globomail.com|

 


As garras-cruzes

 

Não escaparás dessas garras-cruzes – prisão. Elas estão por toda parte – tampão. Aonde fores, se fugires – ilusão. Longe ou perto, verás, encontrar-te-ão. Inútil correres, nego fujão! Serás agarrado e trazido aqui – seu cão! De volta, vivo ou morto – na mão. Não tens aonde ir – em vão. Mesmo que seja apenas tua cabeça – arrancar-te-ão.

 


Autoencontro

 

Até que você encontra consigo mesmo, assim: uma colisão inesperada, o rosto nas grades, um coice bruto na mente, uma lesão incomensurável no que pode ser chamado de alma, lugar abismo escuro de si, que passa a ser o seu sentido, mais ainda, a sua verdade veraz, vitimada voz

 


Invisible man

A Júlio de Oliveira

 

Eles não nos veem.

Eles nunca nos viram.

Eles nunca nos verão.

Elas poderiam nos ver.

Elas também não.

Elas não nos veem.

Elas são como eles.

Não nos querem ver.

Nunca nos viram.

Nunca nos verão.

Só veem o visível.

 


Os institucionais

 

Não espere nada

Dos brancos

Institucionais

 

Não espere nada

Dos negros

Institucionais

 

(Também)

 

Eles são o Estado

Nacional de

Mal-estar racial

 

Desse Estado

De opressão social,

Espere apenas

 

O mal

 

 

 

4 comentários em “4 poemas de Anelito de Oliveira

  1. É preciso um talento imenso para dizer tanto e tão poucas palavras.
    Esse ofício de poeta é para poucos.
    O talento de Anelito de Oliveira é imensurável.
    Rendo-me sempre a beleza e a profundidade dos seus versos.

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  2. Estes petardos poéticos éticos do Anelito Oliveira revelam a essência de sua verve instigante e inspiradora. Um alento em um tempo tão sombrio e emburrecido, em que a maioria silenciosa está indo, mansamente, para o matadouro. Vida de gado!!!!

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